Na provinciana e obtusa Galiléia um seu
cidadão, Jesus de Nazaré, parece querer romper com a mentalidade e a prática
clânica e sectária que vigorava à sua época. Desmascara sem inibição não só
sentimentos de inveja, ciúmes, posse, superioridade, mas também o cego
egocentrismo nada evangélico que domina os seus seguidores, de ontem e de hoje. De
fato, quem de nós nunca se sentiu enciumado porque alguém reproduziu uma nossa
ideia ou ‘plagiou’ uma nossa reflexão apresentando-a como se fosse de sua
autoria? Quem não experimentou irritação ao constatar que alguém próximo de
nós, que reputávamos possuir ‘menos autoridade ou preparação intelectual’ do
que nós conseguiu mais resultados e sucessos na vida do que nós? Poderíamos
continuar com infinitos outros exemplos que manifestam a nossa mesquinhez de
viver e o nosso modo de nos relacionar com ‘os outros’. O evangelho de hoje
mostra, ao contrário, uma dimensão humana de Jesus claramente antagônica à essa
prática mesquinha de encarar a vida. Algo extremamente inovador para os padrões
da época e para os nossos atuais onde, apesar de vestir o manto da
globalização, continuamos profundamente ‘sectários e provincianos’.
Jesus, afinal, reconhece como aliados seus e
da sua causa todos aqueles/as que independentemente da sua pertença social,
política ou religiosa ‘expulsam os demônios do anti-reino, acolhem e protegem
os pequeninos e não são instrumentos de escândalo’. Jesus, de forma inequívoca,
declara que ‘todos aqueles que recebem um pequenino recebe não tanto Ele, e sim,
Aquele que o enviou’. Indiretamente está afirmando que não é importante
pertencer ao seu grupo e nem a uma determinada igreja ou religião. O
importante, isso sim, é acolher, proteger e oferecer o copo da água da vida e
da esperança ‘àqueles pequeninos’ que ninguém ou poucos sabem proteger. Para
Jesus a primazia não está numa identidade clara e definida, nem numa hipócrita
ostentação de um mandato formal e reconhecido oficialmente por quem quer que
seja, mas na prática ética. Ou seja, na assunção de princípios e opções
existenciais em que a frágil vida dos pequeninos é defendida de forma
intransigente contra os inúmeros e poderosos ‘demônios humanos’. Contra todas
as formas de escândalo e abuso que lhes nega o direito de viver, esperar e
crer. Para Jesus os que cometem tais práticas negadoras de vida é preferível
que sejam radicais consigo mesmo, agora. Que arranquem deles, enquanto ainda há
tempo, a causa principal que lhes impede de serem aliados da causa de Jesus,
não se importando com sua pertença formal. Amanhã, talvez, seja tarde demais!
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