‘Quem tiver duas túnicas, reparta com o que
não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira. 12 E chegaram também
uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos
fazer? 13 E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está
ordenado.14 E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que
faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e
contentai-vos com o vosso soldo....
Com toda probabilidade esta foi a pregação
que mexeu com o cidadão e peregrino Jesus de Nazaré! O deslocamento do então
anônimo Jesus o Galileu, de Jerusalém à região do deserto da Judeia, certamente
foi motivado pela fama que o pregador e profeta João Batista gozava na cidade.
Lá, Jesus não encontrou um dos muitos pregadores fanáticos profetizando uma
suposta próxima vinda do enviado de Javé, mas um cidadão que escancarava sua
amargura e desilusão com o futuro da sua nação. Uma pessoa angustiada com
a previsível falência e a inevitável implosão social e moral do seu povo. Os
sinais eram claros e irrefutáveis. Todavia, era um homem atento aos movimentos
históricos, e às frágeis, mas reais possibilidades de reverter um quadro que
parecia já consolidado. João, numa última e desesperada tentativa de dar outra
direção à nação que não fosse o fracasso nacional, decidiu convocar todas as
pessoas para uma mudança social. Uma espécie de força-tarefa nacional, a partir
do deserto!Só esta lhe parecia indispensável para evitar a autodestruição
pessoal e nacional. Em outras palavras: ou os cidadãos e cidadãs de Israel
começavam a superar a sua sede doentia de acumular e concentrar bens, de
extorquir e corromper, de utilizar a violência e o abuso como métodos normais,
ou o seu futuro de paz e união seria varrido do seu horizonte. Para aqueles
‘devotos’ que achavam que bastavam os seus holocaustos e oblações oferecidos no
templo, ou a sua autoconsciência de pertencer à ‘nação santa e eleita’ o
machado e o fogo os teriam definitivamente colocados à margem de tudo. Era
urgente produzir, agora, frutos de ‘conversão’, ou seja, de justiça! Jesus que
provinha da ‘rebelde Galileia’, formado nas inconformadas e resistentes aldeias
do Norte, identificou-se imediatamente com o jeito e o conteúdo de João da
pregação de João. Não somente se comprometeu, mediante o batismo, a levar
adiante aquela mudança social, mas também a se tornar, ele mesmo, uma extensão
do profeta. E o superou! Jesus depois dessa experiência iluminadora acreditou firmemente
que em lugar da desgraça nacional poderia chegar a graça para cada ser. Em
lugar do machado excludente e do fogo divino depurador, apareceria a compaixão
e a vida em plenitude. Em lugar de um ‘messias’ uma multidão de homens e
mulheres co-responsáveis pela integridade física e moral uns dos outros. Um
novo jeito de governar em que só um Deus compassivo seria o único Rei.
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