Não foram as aparições de um ‘fantasma’ que
passa por portas trancadas que convenceram os discípulos de Jesus, após a sua
morte, que ele havia ressurgido. Afinal, as aparições eram um mero expediente
literário-teológico utilizado para justificar o envio e a missão dos próprios
discípulos. Foi, ao contrário, uma nova e reveladora consciência de que o grupo
de Jesus continuava a receber compaixão, paz e perdão pelo único e mesmo Jesus,
aquele que havia sido crucificado. Os medrosos e traidores discípulos que
o haviam abandonado na hora cruz voltam a sentir a presença do mesmo mestre que
oferece paz. Mais que isso: os envia para que eles também anunciem e ofereçam
paz (perdão). É essa consciência de que Jesus continuava a lhes oferecer uma
nova chance de reconciliação com ele, - mesmo após a sua traição, - que faz
amadurecer, progressivamente, neles a convicção de que Jesus continua vivo e em
comunhão com eles. O crucificado, agora vivo, oferece mais uma chance de
recomeçar ‘sem ele’, embora sempre ‘com ele’, de uma forma nova. A chance de
provar que superaram o medo de ter que enfrentar sozinhos o mundo dos
crucificadores. A chance de provar para si próprios e para os pobres, os cegos,
os paralíticos, os desesperados que estes não foram abandonados pelo mestre da
Galiléia, mas que ele continua a acolhê-los, perdoá-los e a curá-los através
deles e delas.
Essa nova tomada de consciência não se deu de
uma hora para outra. E nem de modo uniforme. Foi uma caminhada gradual e não
sem conflitos. Alguns ajudando outros a se convencer e a se converter ao
‘ressuscitado’. Outros exigindo sinais claros e clamorosos de que essa nova
missão ‘retomada’ seria querida pelo mesmo Jesus que já não estava no meio
deles. São os ‘Tomés’ da vida. Já outros conseguem sentir a presença viva
do mestre ao reproduzir os seus mesmos e singelos gestos de acolhida, de
respeito, e de oferecimento da paz. Uma coisa, contudo, parece clara e que
emerge do relato hodierno: todos, embora de forma diferenciada, chegam à
‘consciência consensual’ de que não há outros ‘senhores e outros deuses’ a não
ser Jesus crucificado. O mesmo que expõe não somente as feridas abertas do seu
corpo cruscificado, mas também as chagas de uma humanidade sedenta de esperança
e de paz. O ressuscitado hoje nos envia para que não tenhamos medo de ‘afundar
o dedo’ e afundar a nossa alma nos sofrimentos e nas numerosas modalidades de
morte de um número sempre maior de inocentes. Afinal, nós indign@s herdeir@s do
‘espírito’ do ressuscitado não estamos mais sozinh@s e tampouco podemos ser
vítimas do nosso medo paralisante.
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