Para ser seguidor do projeto de Jesus de
Nazaré é preciso possuir uma estrutura humana e espiritual adequada. Não é
qualquer um que pode. O candidato tem que passar por alguns testes, e aceitar
exigências um tanto radicais. No fundo, nada mais daquilo que a própria
vida na sua concretude e dureza exige. No caso do seguimento de Jesus, contudo,
há uma diferença substancial. Enfrentar a vida e seus desafios é algo
‘obrigatório’, - a não ser que uma pessoa faça a opção de fugir biologicamente
dela, - no caso de Jesus, porém, é uma adesão voluntária e consciente. Vai quem
quer e quem pode! As palavras exigentes de Jesus expostas no evangelho de hoje
parecem corresponder a um esquema fixo, padronizado, elaborado especificamente
para aquelas pessoas que queriam ser cristãos em todas as épocas. Ou seja, nada
circunstancial, ou temporário, e sim algo válido o tempo todo. Parece existir
uma preocupação de fundo por parte de Jesus, ou por parte dos seus discípulos
históricos, ao selecionar possíveis futuros candidatos a seguidores do grupo
cristão. A de não ‘desmoralizar’ o projeto ao qual eles se dizem dispostos a
aderir. É como se o formador e selecionador exigisse por parte desses
candidatos a capacidade incondicional de assegurar que irão até o fim. Que
terão condições pessoais de seguir o Mestre em tudo o que Ele pede. Caso
contrário, melhor desistir logo!
As exigências que são colocadas são
essencialmente duas. A primeira é colocar a construção de uma nova e mais ampla
família acima de tudo. Ou seja, aceitar que Jesus e o seu projeto se tornem o
espaço afetivo que possibilita a plena realização do discípulo. Perceber
que ao colocar em primeiro lugar o modo de governar de Deus em Jesus, os
candidatos a discípulos iriam encontrar mais mães, mais pais, mais irmãos e
irmãs, e mais filhos do que aqueles que já possuíam. Em suma, ampliar e
estender universalmente os afetos e não se deixar prender, - mesmo sem
desprezar, - pelos afetos familiares pessoais. Isso implica, necessariamente,
superar aquela visão restritiva segundo a qual os estrangeiros, os pagãos, os
impuros, os doentes não podiam ser amados, por não serem o seu ‘próximo’.
Uma segunda exigência que é colocada ao candidato a discípulo parece ser
conseqüência direta da primeira: saber carregar a cruz. É bem provável que o
evangelista tenha tomado essa imagem ao fazer memória do que significou a cruz
que Jesus carregou rumo ao Calvário, e sobre a qual foi pregado. A cruz da
humilhação pública, a cruz do abandono e da impotência frente ao poder da
brutalidade das instituições. A cruz que quase ninguém ajuda a carregar, que é
escândalo para gregos, romanos, pós-modernos e racionalistas. Uma cruz que não
é garantia de prosperidade e sucesso fácil. Uma cruz que não ajuda a encher
igrejas, mas que se faz necessária carregá-la para que surja a nova humanidade.
Pensemos, hoje, de modo especial naqueles
cristãos do Iraque, da Síria, da Nigéria que são perseguidos, torturados e
mortos por fanáticos e intolerantes.
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