Nos dias, 18 e 19, foi realizado no município de Afogados da Ingazeira, sertão de Pernambuco, o primeiro Encontro dos Atingidos e Atingidas pelos Grandes Projetos no estado. O encontro, organizado pelas equipes da Comissão Pastoral da Terra em PE, reuniu vários representantes de comunidades camponesas impactadas por grandes projetos em curso no estado, a exemplo da Transposição do Rio São Francisco, a Transnordestina, Complexo de Suape e a Mineração.
O objetivo do encontro foi discutir a realidade do campo em Pernambuco a partir dos impactos destas Grandes Obras/Grandes Projetos para compreender os tensionamentos, os conflitos pela terra/território. Para a CPT, na medida em que avançam os grandes projetos avançam também os impactos negativos nas comunidades camponesas. No entanto constata-se também que essas comunidades reagem, re-existem a essas obras.
No dia 18, na parte da manhã foram feito visitas em loco no canal de Transposição do Rio São Francisco, a Transnordestina, e a Mineração. Na parte da tarde foram feito a socialização do que viram e ouviram, a partir do seguinte relato dos visitantes.
A Transposição do Rio São Francisco - Visitamos o canal lote doze, onde estava sendo construído pelas empresas: Galvão, Coeza, OAS e Barbosa de Melo. Ao chegar já se vê o canal construido na beira da pista. Ao adentrar nota-se que está tudo abandonado. Depois fomos a indústria e conversamos com André. No início havia 350 trabalhadores. Hoje só tem onze vigias.
Das quatro empresas só uma está com o maquinário no local. As obras estão paradas desde 21 de dezembro de 2010, quando ocorreu a morte de três operários em uma explosão na abertura do canal e muitas foram hospitalizadas. Mas ninguém comenta a respeito. É uma obra que já está matando. Eles trabalham muito perto da pista. Há muito projeto de marketing, pois só se vê movimento no que está mais a vista.

Decepcionou-se quando soube que éramos dos movimentos sociais. Notícia boa é que a obra está parada. Ainda é área militarizada. Não deixaram entrar na Água Viva. Os canais já estão precisando de manutenção. É muito dinheiro esbanjado. Que projeto é este para matar a sede da população se destrói a cisterna? É uma contradição muito grande. A cisterna que matava a sede das pessoas está sendo destruída. O governo Dilma não fala mais do projeto de transposição, fala nas cisternas para matar a sede do povo do nordeste.
A Transnordestina – Fora visitado um Assentamento onde o chão está sendo rasgado pela construção da ferrovia, dividindo as famílias. O assentamento de um lado é contornado pelo rio Pajaú. Este rio é contaminado.
O que mudou com a chegada desta obra na vida das pessoas foi a melhoria da estrada. Possuem ciência de que a estrada está boa e ficará boa enquanto estão fazendo a obra, depois voltará a ficar abandonada. Somente uma pessoa da comunidade está trabalhando na obra. Cada família recebeu R$ 313,00 de indenização. As terras ficaram divididas. Não há acesso de um lado para outro. Falta de informação da Oldebrech – empresa que está realizando a obra.
O barulho incomoda, pois trabalham direto manhã, tarde e noite. Faltam lideranças e resistência. A ferrovia tem inicio em Eliseu Martins -PI até o Porto de Suap/PE. A devastação da caatinga é gritante e, não se fala em reflorestamento. A estrada de ferro passa no meio do assentamento, atingindo a área coletiva do assentamento. A trasnordestina será toda cercada com arame. Estes projetos isolam as comunidades principalmente por causa destas cercas. Na maioria dos locais já estão colocando os trilhos. Faz oito meses que a obra iniciou e está a todo vapor.
Percebemos a clareza que eles possuem da própria história e do sentimento de pertença naquele lugar diziam aqui pertenceu a meu avó, meu bisavó..., Notamos que a história é a mesma em várias regiões quando se fala de comunicação do que mesmo a empresa irá fazer, falta informação para a população. Não há uma conversa aberta por parte da empresa e do governo com a comunidade. Simplesmente os governantes e a empresa vão se apoderando e expulsando as famílias. A juventude presente na nossa conversa nos pareceu apática ao assunto.
Há resistência da comunidade de não querer sair, porém, não há articulação para a resistência. A empresa mineradora Vale do Pajaú comprou 16 cotas (oito quadras) a cinco anos atrás dizendo que seria para criar avestruz. Agora vai instalar uma empresa de mineração.
Alguns representantes de outras comunidades presentes no encontro também partilharam os impactos que estão sofrendo como é o caso de pescadores com o projeto de SUAP, desmatamento, da mata e dos mangues, a poluição causada pelas indústrias.
Assentamento Minharim, Engenho Verde e Engenho Canário. Ano passado com a cheia o governo do estado anuncia a construção da barragem de contenção. Este ano representantes do governo foram ao local e anunciaram a construção da barragem. Com esta obra 1.860 famílias terão que sair. O paredão terá 85 metros de altura. Não é dado informação a comunidade de como será essa obra. No local há um casarão histórico, ponto turístico que também será destruído. No seminário todos por Pernambuco o governador assinou o decreto de desapropriação das terras. O que piora a situação é que o governo coloca as pessoas da cidade de Palmares contra as pessoas dos engenhos que serão atingidas pela barragem. Nestes engenhos as pessoas já possuem a experiência de não receber indenização quando foi construída rodovia.
A Comunidade Estrela é atingida pela barragem do cajueiro construída pelo governo do estado. Ela atingiu toda a comunidade Quilombola em Garanhuns. Terras em que as famílias trabalhavam agora muitos foram embora pra cidade sem indenização nenhuma e outros vivem com familiares e se mantém com o cartão bolsa família.
Assentamento de Floresta, a comunidade está dividida pela construção da ferrovia. Na região Serra Negra tem 600 famílias que estão no centro da obra. A comunidade se organizou e não deixaram desmatar sem antes resolver o problema das casas. A comunidade tomou a frente das máquinas e pararam a obra. No segundo dia de mobilização, Rubens Esteb pediu um prazo de trinta dias pra resolver o problema. Já deu um ano e o descaso continua. Serra Negra é a primeira reserva ecológica criada no Brasil em 1950. É uma área em que todos os povos indígenas do nordeste em determinada época do ano vão pra lá fazer seus rituais. Então, estragam a reserva pra não indenizar três casas e um posto de saúde. Que país é este?
A partir da socialização dos impacto visto e sentido, fora aberto para o debate tentando identificar o que há em comum e se repete em todas as regiões de Pernambuco?
Desmatamento, impactos ambientais, pressão e expulsão sobre os pequenos, isolamento, falta de informação das pessoas atingidas, descaso do governo em fazer as obras sem uma conversa e consulta com a comunidade atingida pela obra, exploração de madeira de forma ilegal, migração, falta ou injusta a indenização, SUAP, Mineração, Transposição. Tudo isso está ligado e tem haver com a exportação do país.
Fez-se presente na parte da tarde o bispo de Afogados D. Egidio, o qual escutou toda a partilha dos grupos e dos representantes das comunidades impactadas.
Á noite fora realizada a noite cultural, Gogó e Gil fizeram a animação junto com o grupo.
Iniciamos o dia 19, com um momento orante preparado pelas Irs. Marisa e Sandra. Fora celebrando a vida e lembrando as três pessoas que morreram na transposição do Rio São Francisco, dos povos indígenas e da campanha da fraternidade deste ano nos convoca a cuidar da vida do planeta. Tendo presente os gritos, gemidos de dores que nos vêm da mãe terra.
Em seguida foi feito memória do dia anterior por Gogó e Júnior. Após a memória houve trabalho de grupos para elencar proposta do que fazer diante da realidade em que estamos inseridos.
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