A vida após a morte tem
despertado ao longo dos séculos, em muitas culturas, medos e expectativas,
curiosidade e mistério, idealizações e especulações, às vezes, ridículas. Para
quem crê e para quem não crê, diante do mistério da morte e daquilo que nos espera
após ela, deveríamos simplesmente silenciar. Um silêncio que deveria ser
preenchido por atitudes e sentimentos de agradecimento e contemplação daquilo
que Deus nos deu ao longo da nossa vida vivida e, supostamente, consciente.
Nada mais que isso. O além-morte está única e exclusivamente nos desígnios
imperscrutáveis de Deus, e qualquer projeção e imaginação a respeito é uma mera
fantasia humana. E é bom que seja assim! Primeiro porque somos existencialmente
obrigados a dar sentido, agora, às nossas ações e ao nosso cotidiano,
independentemente daquilo que nos espera após a nossa morte. Ou seja, evitar
acreditar em valores, fazer determinadas ações, assumir uma determinada ética
só por medo de sermos punidos futuramente, ou por acreditar que seremos premiados.
A vida tem sentido independentemente daquilo que haverá ou não haverá após ela!
Em segundo lugar, o fato de não sabermos o que nos espera no além-morte nos
obriga, positivamente, a dar valor a cada gesto de afeto, de amor, de amizade,
a viver com intensidade cada hálito de vida emanado pelo universo, e a ver
nisso um permanente e impagável dom do Deus dos vivos. Jesus tem a oportunidade
de reafirmar tudo isso justamente com aqueles grupos de saduceus segundo os
quais tudo acaba aqui, nessa dimensão terrestre e passageira.
Jesus não aceita a
provocação/comparação ridícula e hilariante dos saduceus a respeito da mulher
‘cheia de energia’ que acaba enterrando ‘sete maridos’, e que desperta neles
uma curiosidade sobre o seu ‘estado civil’ após a sua morte (esgotada, também
ela, enfim, morreu!). Jesus de uma forma bem polida lembra àqueles
senhores auto-suficientes que não alimentavam culturalmente nenhuma expectativa
após a morte, - supostamente por ‘terem tudo’ já, agora, - que estaremos numa
outra dimensão, feito anjos, perenemente vivos. E não importa como. A prova de
que a morte não é um ponto final no caminho existencial dos humanos é que Deus
continua sendo o Deus também daqueles que ‘já se foram’ , como Abraão, Isaac e
Jacó, porque mesmo mortos biologicamente, continuam vivos não só na
memória de Deus, mas de todos aqueles humanos que ‘os mantêm vivos’ em seus
gestos e opções de vida. É como se Jesus nos dissesse ‘por que perder tempo
especulando o que será e como será após a sua morte, em lugar de se preocupar
em dar sentido e valor ao seu lutar, trabalhar, crer, sonhar, esperar, chorar,
agora? Por que não acreditar que, agora, também na dor e na morte, podemos
sentir a alegria e felicidade de viver intensamente? Por que não acreditar na
força e na presença viva daquelas pessoas amadas e queridas que não estão só na
nossa memória biológica, temporal, e sim nos nossos gestos de amor ilimitado
que nunca se apagam? Por que não acreditar que nisso tudo é o próprio Deus vivo
agindo em nós e através de nós? Vivemos desde já, com intensidade, a nossa
eternidade!
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